Durante participação no CNN Esportes S/A deste domingo (2), o ex-árbitro e comentarista Sálvio Spínola criticou a falta de uma estrutura unificada de ensino e responsabilizou a CBF pela ausência de um modelo nacional de formação de árbitros no Brasil.
Ele também analisou o impacto das transformações no calendário do futebol brasileiro sobre a arbitragem e afirmou que o modelo atual não favorece a formação de novos profissionais.
Segundo Sálvio, a Confederação Brasileira de Futebol está atrasada em relação às demais entidades.
A CBF é a única confederação no mundo que não forma árbitro. Deixa eu repetir: a única confederação no mundo que não forma árbitro é a CBF. No futebol brasileiro, os árbitros são formados pelas federações. São 27 escolas, cada um com seu modelo. Isso precisa mudar. Desde 2003 tinha que mudar, nós estamos em 2025 e não mudou.
De acordo com o comentarista, a mudança para o formato de pontos corridos em 2003 foi decisiva para a queda de qualidade nas escolas de arbitragem, que não acompanhou a novidade da forma correta.
“Hoje está sendo colhido os frutos de árvores que não foram bem plantadas. A árvore na arbitragem é uma árvore que você tem que plantar e ter sempre oxigênio. (...) Desde 2003, o calendário do futebol brasileiro mudou de forma radical”, lembrou.
Não obstante, Spínola afirmou que, apesar das transformações no sistema de competições, o processo de formação dos árbitros permanece o mesmo há mais de 20 anos.
Eu vou te responder o que mudou na formação do árbitro a nível nacional. Nada. Não mudou nada. Hoje é como era em 2002, como era naquele futebol antigo.
Formar no competitivo
Ao falar sobre as diferenças entre o calendário atual e o antigo, Spínola destacou que os campeonatos estaduais tinham papel essencial na preparação de árbitros.
"Hoje o Estadual não tem competitividade nenhuma, não tem. São poucos jogos e quem apita os jogos difíceis são os árbitros já formados. Então, você não vai formar árbitro na federação do árbitro. Hoje você forma no nacional", analisou.
Segundo ele, a falta de jogos desafiadores reduziu o ritmo de evolução técnica dos profissionais: “Neste Campeonato Brasileiro de 2025, você tem árbitros que apitaram quatro jogos da Série A. Como que vai formar esse árbitro? Que resposta ele vai dar numa dificuldade?”
Spínola defendeu que a formação aconteça em competições de alto nível, onde o árbitro seja testado sob pressão.
Tem jogo que é fácil, que não exige dificuldade para o árbitro. Então, não é aí que o árbitro vai te dar uma resposta se ele tá preparado ou não para um grande jogo. É preciso mudar isso, sabe. Usar, formar o árbitro no campeonato que é competitivo.
Árbitros de laboratório
Para Spínola, o ideal seria seguir o modelo adotado por outros países, que aproximam ex-jogadores da função e formam árbitros “da bola”, e não apenas de laboratório.
"O futebol brasileiro é formado por árbitros de laboratório, que procuram a escola para ter uma fonte de renda a mais, uma taxa a mais. No mundo não é assim, tem que ser como a escolinha do jogador", explicou.
Ele citou uma proposta que apresentou à CBF para aproveitar jogadores formados nas categorias de base.
"Eu apresentei um projeto, uma ocasião para CBF assim, pega jogadores de categoria de base que não dão certo. Não significa que os que não deram certo serão bons árbitros, mas você tem que dar essa oportunidade", contou.
Spínola defendeu que atletas com experiência dentro de campo têm mais repertório para interpretar o jogo.
Esse jogador, ele tem pelo menos 10 anos de atividade física e de mentalidade do jogo. Sabe o que que é contato físico. Sabe a malandragem do jogador. Os melhores árbitros que eu vi foram jogadores de futebol.
CNN Esportes S/A
Com Sálvio Spínola, ex-árbitro e comentarista de arbitragem, o CNN Esportes S/A chega à 115ª edição. Apresentado por João Vitor Xavier, o programa aborda os bastidores de um mercado que movimenta bilhões e é um dos mais lucrativos do mundo: o esporte.
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