Quase metade dos brasileiros não possui dinheiro guardado para lidar com imprevistos, mostrou uma pesquisa do Datafolha divulgada nesta terça-feira (4). Porém, 59% da população se considera razoavelmente, muito ou extremamente planejada financeiramente.
Cerca de 84% dos brasileiros enfrentaram emergências no último ano, como atrasar o pagamento de contas, pedir dinheiro emprestado, recorrer a crédito ou até ter o nome negativado.
Por outro lado, quatro em cada dez brasileiros gastaram acima do que receberam no último ano. Cerca de 52% das pessoas dizem ter uma boa noção dos gastos no mês, apesar de não saberem o valor exato.
Segundo Michael Viriato, estrategista da Casa Investidor, a falta de planejamentos dos brasileiros pode acontecer por diversos motivos, como a percepção de que a renda é infinita e sempre virá. Além disso, há a dificuldade de entender a necessidade de uma reserva futura.
O especialista relaciona o cenário também com o uso de parcelamentos "sem juros" – que possuem custos embutidos. Segundo ele, esses custos comprometem a renda futura sem serem vistos como dívida.
"Como as pessoas compram muitos bens e até serviços com parcelamento sem juros, ela acaba comprometendo toda a renda futura de forma significativa e ela nem considera isso como dívida, embora seja uma dívida.", explica.
Segundo Viriato, a falta de planejamento impede a formação de reservas para riscos, que incluem a perda de renda ou a necessidade de parar de trabalhar.
A pesquisa do Datafolha evidenciou que a maioria dos brasileiros enfrenta dificuldades para equilibrar as contas: cerca de quatro em cada dez pessoas afirmam conseguir pagar as despesas, mas não sobra dinheiro, enquanto 19% nem sempre conseguem pagar tudo.
Segundo ainda o levantamento, cerca de 64% dos brasileiros têm o hábito de planejar os gastos mensais.
Enquanto 46% dizem estar insatisfeitos com a condição financeira atual, 38% se consideram neutros e 16%, satisfeitos. Entre os satisfeitos com a condição financeira, 82% afirmam acompanhar as despesas, enquanto, entre os insatisfeitos, o percentual cai para 55%.
A pesquisa do Datafolha ouviu 2 mil pessoas em todas as regiões do país, das classes A, B e C, com 18 anos ou mais e acesso à internet, entre 16 e 29 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Dificuldade no planejamento a longo prazo
O Datafolha indicou também dificuldade para planejamento de objetivos de longo prazo. Mais de 40% dos entrevistados não possuem reserva de emergência — maioria deles pertencem à classe C (78%).
O mesmo cenário se repete quanto ao planejamento sucessório, ou seja, de herdeiros. Mais da metade (56%) já pensou em distribuir seus bens, mas somente 7% têm testamento ou plano formal.
Apesar das dificuldades, poucos buscam ajuda de um profissional para se organizarem financeiramente, apesar de 49% considerarem a possibilidade. Cerca de 57% dizem não contar com auxílio para organizar as finanças, e somente 2% afirmam já ter contratado um planejador financeiro.