O relacionamento bilateral entre Brasil e Estados Unidos deixou de ser uma questão de negociação normal ou conflito razoável para se tornar uma situação que exige postura de defesa por parte do Brasil. A análise é do cientista político Feliciano de Sá Guimarães, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo), em participação no programa “WW Especial”, da CNN, que debateu a disputa entre China e EUA sobre o Brasil e América Latina.
Em um cenário em que a influência chinesa na América Latina cresce e os americanos deslocam poder militar para a região, o professor alerta que Brasília precisa urgentemente repensar sua política externa.
“Os americanos apontaram para nós. Com isso, o país atravessa uma fase perigosa que exige cautela. Nós não estamos em uma relação boa, nem em uma relação normal. Nós estamos numa relação de defesa. Nós temos que nos defender da ação americana”, alertou.
Para o professor da USP, esta mudança de perspectiva nos Estados Unidos é impulsionada por pelo menos duas grandes correntes. A primeira é a necessidade de combater imediatamente a influência chinesa. A segunda é a percepção, por parte do governo americano, de que a América Latina se tornou um problema doméstico devido à questão da migração e do crime organizado e do narcotráfico.
“Essa combinação de fatores — geopolítica e questões internas americanas — propicia um ambiente em que a expansão do poder bélico na América do Sul se torna mais fácil para o governo atual de Donald Trump”, explicou.
Se essa interpretação for confirmada, o professor aponta que os americanos estão "flertando com uma ideia antiga da Guerra Fria que se chama esferas de influência".
“Este conceito é muito negativo para o Brasil, pois os americanos entendem automaticamente as Américas como parte de sua esfera”, destacou.
O cientista político pontuou que, historicamente, o Brasil se acostumou a manter seu relacionamento bilateral com os EUA sob o conceito de "voar abaixo do radar americano", uma tática que visava evitar problemas. Contudo, essa estratégia não é mais viável, de acordo com o professor.
"Nós estamos numa situação em que, hoje, é praticamente impossível voar baixo do radar americano”, disse.
Guimarães adverte ainda que as recentes ações do governo Trump em relação ao governo brasileiro parecem ser apenas "recursos táticos" em vez de mudanças estratégicas de fundo.
“O perigo reside em um ciclo em que os Estados Unidos atraem o Brasil e depois atacam o Brasil. Caso esse padrão se torne sistemático, nós teremos que repensar o relacionamento e construir uma política externa defensiva em relação aos americanos, pois estaremos cada vez mais sujeito às pressões norte-americanas”, concluiu.
WW Especial
Apresentado por William Waack, o programa é exibido aos domingos, às 22h, em todas as plataformas da CNN Brasil.
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