Quem nunca sentiu aquela dor em forma de aperto na testa ou na nuca após um dia puxado?
Conhecida como dor de cabeça tensional, esse tipo de cefaleia pode parecer inofensivo, mas quando frequente ou intenso, sinaliza um desequilíbrio no sistema de processamento da dor. Com medidas simples e orientação adequada, porém, é possível aliviar os sintomas e prevenir novas crises.
O que causa dor de cabeça tensional
Segundo o neurologista Tiago de Paula, especialista em cefaleia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), a dor de cabeça tensional foi tradicionalmente descrita como uma dor caracterizada por sensação de aperto na testa ou na nuca. “Por muito tempo, foi considerada uma condição isolada, causada principalmente por estresse, má postura ou tensão muscular.”
Entretanto, a compreensão atual sobre a patologia engloba que o quadro compartilha mecanismos fisiopatológicos com a enxaqueca. “Especialmente o envolvimento do complexo trigêmeo-cervical, que integra estímulos sensitivos da face, cabeça e região cervical superior”, explica o médico.
Isso significa que a dor de cabeça tensional não se trata de uma doença separada, mas uma manifestação clínica dentro de um mesmo espectro de desordens do processamento da dor no cérebro. “Muitos pacientes rotulados com dor de cabeça ‘tensional’ apresentam, na verdade, manifestações mais sutis de enxaqueca”, afirma o especialista.
9 técnicas para aliviar a dor de cabeça tensional
Embora não curem a causa do problema, algumas práticas caseiras podem aliviar os sintomas e ajudar a prevenir novas crises. Elas atuam diretamente na regulação do sistema nervoso, redução da tensão muscular e controle da dor:
1. Alongamento cervical diário
Simples e eficaz, essa prática relaxa os músculos do pescoço e dos ombros, diminuindo a sensibilização na região da cabeça e do pescoço. “É indicado principalmente ao acordar e no fim do dia”, orienta o neurologista.
2. Respiração diafragmática
Também conhecida como respiração profunda, ajuda a acalmar o corpo, ativando o sistema parassimpático (que reduz o estresse e melhora a oxigenação cerebral).
“Inspirar profundamente pelo nariz, expandindo o abdômen, segurar por três segundos e expirar lentamente pela boca. Esse ciclo ajuda a reduzir a ansiedade e pode diminuir a frequência das dores”, explica o especialista.
3. Compressa fria na nuca e ombros
A aplicação de compressa fria é uma das medidas mais eficazes no alívio da dor de cabeça tensional.
“Ela ajuda a desinflamar nervos periféricos, reduzindo estímulos dolorosos de maneira mais duradoura do que as compressas quentes”, diz.
4. Pausas ativas e movimento leve
Ficar sentado por muitas horas seguidas pode aumentar a tensão muscular. Por isso, movimentar-se durante o dia é essencial.
Caminhadas leves ou pequenas pausas com alongamentos ativam a liberação de endorfinas, substâncias naturais que promovem bem-estar e aliviam a dor.
5. Meditação e mindfulness
Técnicas que envolvem atenção plena e controle da respiração têm se mostrado eficazes na redução da frequência e intensidade das cefaleias.
“Elas modulam centros cerebrais relacionados à dor e ao estresse, como o córtex pré-frontal e a ínsula”, afirma de Paula.
6. Automassagem
A automassagem na região do pescoço e nos chamados "pontos gatilho" (áreas de tensão muscular) pode liberar contraturas e aliviar a dor. Mas é preciso cautela.
“Ela pode ser um gatilho para piora das dores em muitos pacientes e deve ser feita com cuidado”, adverte o médico.
7. Ajustes posturais
Manter a postura correta, especialmente ao se sentar, é essencial. “Esses pacientes apresentam a região cervical mais sensível. Melhorar a ergonomia corrige a sobrecarga muscular crônica na região occipital e cervical, onde se processam parte dos estímulos dolorosos”, explica de Paula.
8. Chás e produtos naturais
Algumas ervas com ação calmante podem auxiliar no controle da dor, principalmente quando o fator emocional está envolvido:
- camomila;
- melissa (erva-cidreira);
- lavanda e passiflora.
No entanto, o neurologista alerta: “O mais importante é tratar a doença. Produtos naturais podem ter efeito complementar, mas não devem substituir o tratamento médico.”
Quando procurar ajuda médica
Mesmo que muitas dores de cabeça pareçam passageiras, elas não devem ser ignoradas. “Ter dor não é normal. Se ela causa qualquer incapacidade funcional, como faltar ao trabalho ou deixar de estudar, ela deve ser tratada”, enfatiza de Paula.
Além disso, é fundamental buscar avaliação médica se as dores vierem acompanhadas de:
- náuseas ou vômitos;
- tontura;
- sensibilidade à luz (fotofobia);
- formigamentos;
- zumbido;
- distúrbios visuais;
- perda de força, confusão mental ou outros sinais neurológicos.
Outro alerta importante está no uso excessivo de medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios. “Eles fazem com que a doença piore se usados com frequência. Com o tempo, eles param de funcionar e o paciente sente mais dores”, afirma o neurologista. O tratamento adequado é aquele que, com o tempo, reduz ou elimina completamente as crises, reforça o especialista.