Em apoio a Moraes, Comissão Arns diz que Trump “perverte” Lei Magnitsky

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns divulgou, nesta quinta-feira (31), uma nota em defesa do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, afirmando que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "perverte" a Lei Magnitsky ao impor sanções contra o magistrado.

A medida, oficializada na quarta-feira (30) pelo Departamento do Tesouro norte-americano, prevê o bloqueio de bens de Moraes em território americano e acusa o ministro de promover “prisões arbitrárias” e impor “restrições à liberdade de expressão”.

No texto, a Comissão Arns critica o uso da Lei Magnitsky — criada em 2016 para punir líderes estrangeiros acusados de graves violações de direitos humanos — como instrumento de “perseguição infundada” a um ministro que “cumpre sua função legal no julgamento de atos que, estes, sim, atentaram contra os direitos humanos no Brasil”.

A nota também afirma repudiar a decisão de Trump, classificando a sanção como uma “ofensa inominável” à dignidade nacional e à independência do Judiciário brasileiro.

A entidade ressalta que as medidas representam tentativa de “pressionar a Justiça brasileira a interromper o processo penal em curso contra os réus acusados de tentar um golpe de Estado”, em referência às investigações conduzidas por Moraes que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Para a Comissão Arns, a ação do presidente norte-americano “atenta contra as boas relações entre os países” e representa “desprezo do princípio constitucional da independência entre os poderes”.

A entidade convoca a sociedade brasileira a defender “a democracia, a soberania nacional e os direitos fundamentais”, reforçando apoio a Moraes e ao STF diante do que classifica como “ingerência externa" inaceitável.

Leia a nota na íntegra:

EM DEFESA DE ALEXANDRE DE MORAES, DO STF,
DA DEMOCRACIA E DA SOBERANIA NACIONAL

Nota Pública

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns manifesta o seu repúdio à decisão de Donald Trump de impor sanções econômicas pessoais ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Por meio desta nota pública, vem dar as mãos a entidades e personalidades de orientações políticas distintas, bem como a colegiados como a nossa corte suprema e a órgãos de imprensa de colorações distintas, que já expressaram os mesmos protestos.

Não podemos nos calar diante da ofensa perpetrada pelo atual ocupante da Casa Branca contra a dignidade da nossa gente.

Uma ofensa, de fato, inominável. Depois de mandar retirar de modo casuístico o visto da maioria dos ministros do STF e de despejar uma saraivada de bravatas ameaçando taxar em níveis absurdos produtos brasileiros nos Estados Unidos, o governo Trump reincide na afronta para impor bloqueios econômicos a um dos integrantes da corte, o ministro Alexandre de Moraes.

E qual a motivação de tudo isso? Pressionar a Justiça brasileira a interromper o processo penal em curso contra os réus acusados de tentar um golpe de Estado.

É o que se lê em documentos assinados pelo presidente dos Estados Unidos. É o que se ouve nas declarações de seus assessores diretos.

Nenhuma das medidas infamantes foi justificada com base em razões de ordem comercial ou com base em equilíbrio do fluxo de divisas. Tais razões, afinal, inexistem.

A única alegação manifesta se reduz ao intento explicitado de livrar o réu Jair Bolsonaro e seus cúmplices da justa e formalmente impecável ação judicial a que respondem, nos termos estritos da lei, com seu direito de defesa amplamente assegurado.

O quadro que enfrentamos é duplamente inaceitável.

Num primeiro plano, o teor das medidas, além de ultrajante, atenta contra as boas relações entre os países e não tem precedentes nos laços diplomáticos que vêm pautando seus entendimentos.

Num outro plano, ainda mais grave, as justificativas para tamanhas arbitrariedades são ainda piores: demonstram total desprezo do princípio constitucional da independência entre os poderes que vige no Brasil e em todos os Estados democráticos.

Por fim – e, para a Comissão Arns, este ponto deve merecer a mais dedicada atenção da cidadania brasileira –, é preciso destacar as inversões que se concentram nesse caso.

O fundamento legal para a arbitrariedade cometida contra a pessoa do ministro Alexandre de Moraes é a Lei Magnitsky. Ora, essa lei, criada em 2016 para impor sanções a ditadores que violaram os direitos humanos, é agora pervertida e corrompida para se prestar à perseguição infundada de um magistrado que cumpre sua função legal no julgamento de atos que, estes sim, atentaram contra os direitos humanos no Brasil.

A nenhum estadista ocorreria o expediente estapafúrdio de lançar mão da Lei Magnitsky para interferir no devido processo legal conduzido, com independência constitucional, pelo Poder Judiciário de um país soberano.

No repertório de Donald Trump, porém, o expediente estapafúrdio vira solução de Estado.

Vivemos um tempo em que as referências da civilização são postas de ponta-cabeça.

Nos Estados Unidos mesmo, um governo que chegou ao poder graças aos mecanismos eleitorais assegurados pela democracia não se cansa de atentar contra a democracia.

Seus aliados mundo afora se valem da mesma fórmula: usam as liberdades democráticas para depois sufocar as liberdades democráticas.

Que agora a Lei Magnitsky vire uma arma contra os direitos humanos não nos surpreende, mas deveria nos pôr em alerta redobrado.

Sigamos em unidade nacional.

É hora de lutar pela razão, pela sanidade, pela responsabilidade e pela prevalência da civilização.

Todo apoio ao ministro Alexandre Moraes, ao STF, à democracia e à soberania nacional.

É hora de defender os direitos humanos.

Nosso povo saberá fortalecer os direitos fundamentais de cada brasileiro e cada brasileira, sem tolerar nenhuma ingerência externa.

São Paulo, 31 de julho de 2025.

*Publicado por João Scavacin, da CNN, sob supervisão 

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