O shutdown do governo dos Estados Unidos completa 36 dias nesta quarta-feira (5) e se tornou a mais longa da história do país.
Com republicanos e democratas trocando acusações sobre o impasse orçamentário no Congresso, o bloqueio pode se estender por tempo indeterminado, e já causa impacto econômico estimado em pelo menos US$ 7 bilhões.
Esta é a 15ª paralisação desde 1981 e supera o recorde anterior, registrado durante o primeiro mandato de Donald Trump, quando o governo ficou paralisado por 35 dias.
Desde então, o Senado já rejeitou mais de uma dezena de vezes uma medida provisória de financiamento aprovada pela Câmara, sem qualquer mudança de posição entre os parlamentares.
Os republicanos, liderados por Trump, mantêm maioria de 53 a 47 no Senado, mas precisam do apoio de ao menos sete democratas para alcançar os 60 votos necessários à aprovação da proposta. Do outro lado, os democratas resistem, pressionando pela prorrogação de subsídios de saúde.
A falta de esforço político é evidente: a Câmara não realiza sessões desde 19 de setembro, e Trump tem deixado Washington com frequência.
Enquanto o impasse persiste, os efeitos da paralisação se espalham.
Assistência alimentar aos mais pobres foi interrompida pela primeira vez, e funcionários federais, incluindo agentes de aeroportos, policiais e militares, estão sem pagamento. Além disso, a divulgação de relatórios econômicos foi suspensa, deixando a economia americana “às cegas”.
Segundo o CBO (Escritório de Orçamento do Congresso) , apenas o primeiro mês da paralisação deve custar entre US$ 7 bilhões e US$ 14 bilhões à economia. Pela primeira vez, até funcionários de segurança nuclear foram dispensados.
Principais impactos da paralisação:
- Mais de 1 milhão de funcionários federais estão sem salário. Parte deles é considerada “essencial” e segue trabalhando; o restante foi dispensado. Embora o governo tenha conseguido pagar tropas e alguns servidores, muitos tentam sobreviver sem renda. Parlamentares e juízes continuam recebendo, conforme a Constituição.
- Trabalhadores terceirizados não têm garantia de pagamento retroativo, diferente dos servidores federais.
- Parques nacionais seguem abertos, mas sem funcionários, com voluntários tentando manter os serviços básicos.
- Menos aberturas de capital (IPOs) estão ocorrendo, já que funcionários da SEC foram dispensados, levando empresas a adiar seus planos.
- Coleta de dados econômicos foi interrompida, dificultando as decisões do Federal Reserve sobre juros.
- Mais de 42 milhões de pessoas podem deixar de receber integralmente os benefícios do SNAP (Programa de Assistência Nutricional Suplementar). Fundos de reserva foram liberados, mas não cobrem os US$ 8 bilhões mensais necessários.
Empregos
Antes da paralisação, o mercado de trabalho dos EUA já estava em frangalhos. O ambiente tem sido de poucas contratações, poucas demissões e pouca rotatividade.
Os empregadores, paralisados pela grande incerteza econômica e política, adiaram investimentos e contratações. Algumas empresas aproveitaram esse período para testar inteligência artificial e outras tecnologias – colocando, por sua vez, à prova a descrição de "poucas demissões" ao anunciarem demissões em massa nas últimas semanas.
Uma análise da Câmara de Comércio dos EUA, divulgada esta semana, estimou que 65,5 mil pequenos empresários contratados têm bilhões de dólares em pagamentos em risco devido à paralisação — US$ 12 bilhões em pagamentos apenas neste mês.
Assistência médica e economia do cuidado
O fim dos subsídios adicionais para planos de saúde cobertos pelo Affordable Care Act (Lei de Acesso à Saúde) é o ponto crucial do impasse no Congresso sobre o financiamento do governo federal e o fim da paralisação do governo.
Os democratas exigem que um pacote de financiamento de curto prazo inclua uma prorrogação do auxílio reforçado, enquanto os republicanos afirmam que não negociarão até que o governo seja reaberto.
Gastos
Se o shutdown continuar depois do Dia de Ação de Graças — 27 de novembro —, "não haverá volta rápida", disse ele, acrescentando que, uma vez ultrapassado esse "ponto sem retorno", causará "danos mais duradouros".
O consumo das famílias representa dois terços da atividade econômica dos EUA. Esse setor tem se mantido amplamente resiliente, apesar da enorme incerteza e da inflação persistentemente alta.
No entanto, é provável que isso se deva a uma economia cada vez mais bifurcada, ou em forma de "K" . Os consumidores ricos, impulsionados em parte pelos fortes ganhos do mercado, estão gerando uma parcela maior dos gastos, enquanto as famílias de baixa e média renda enfrentam dificuldades crescentes.
*Com informações da Reuters e CNN