Pesquisadores da USP criaram um teste que identifica se a pessoa já teve contato com o vírus da zika ou com um dos quatro tipos de vírus da dengue. A tecnologia, baseada no teste ELISA, já usado em laboratórios, pode até ser adaptada para exames rápidos. Isso pode ajudar a entender melhor como essas doenças circulam e até avaliar se as vacinas contra a dengue estão funcionando bem.
O estudo foi feito pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, junto com cientistas da Faculdade de Medicina e da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob). Os resultados saíram no Journal of Medical Virology.
Dengue e zika: parecidas, mas diferentes
A dengue é a doença transmitida por mosquitos que mais se espalha pelo mundo. O vírus dela tem quatro variações (DENV 1, 2, 3 e 4) e circula junto com outros vírus da mesma família, como o zika (ZIKV). O problema é que eles são tão parecidos que, nos testes tradicionais, os anticorpos podem reagir de forma cruzada, dificultando o diagnóstico.
Para tornar o exame mais certeiro, os cientistas usaram partes específicas da proteína do envelope viral – a camada externa do vírus, que se liga às células do nosso corpo. Esse pedacinho, chamado EDIII, ajudou a diferenciar direitinho os anticorpos de cada vírus.
O teste foi primeiro validado com sangue de camundongos infectados com os vírus e depois testado em cerca de 650 amostras de sangue humano coletadas durante o surto de zika no Brasil (2015-2017). O resultado? O exame teve 87,8% de precisão para evitar falsos negativos e 91,4% para evitar falsos positivos.
Em outra fase do estudo, foram testadas 318 amostras de pessoas saudáveis da cidade de Barreiras, na Bahia, uma região onde a dengue é bem comum. Os cientistas descobriram que 65% das amostras tinham anticorpos contra a dengue, mas só três reagiram ao zika. Isso pode indicar que o vírus zika não está circulando por lá há algum tempo ou que os anticorpos contra ele somem mais rápido.
Por que isso é importante?
Com esse teste, dá para saber quem já teve dengue ou zika e monitorar a imunidade da população, principalmente em lugares onde essas doenças são comuns. Também pode ser útil para quem já tomou ou pretende tomar a vacina contra a dengue.
Aliás, a dengue segue preocupante. Só nas primeiras semanas de 2025, já foram registradas 21 mortes no Brasil, sendo que a maioria foi em São Paulo. O retorno do sorotipo 3 da dengue, que não circulava há 17 anos, está deixando os especialistas em alerta.
Se rolar uma nova epidemia, esse teste pode ajudar a identificar quem ainda não tem imunidade contra os vírus em circulação. Assim, dá para direcionar melhor as estratégias de prevenção, como campanhas de vacinação e combate ao mosquito.
E tem mais: no caso do zika, o teste pode ajudar mulheres em idade fértil e grávidas, que são o principal grupo de risco. Como ele evita reações cruzadas com a dengue, dá para avaliar melhor se a pessoa está protegida e criar estratégias para prevenir novos surtos.
A pesquisa contou com apoio da FAPESP, Capes, CNPq e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas.