O transporte público se consolidou como o principal desafio enfrentado pelas administrações municipais das grandes cidades brasileiras, especialmente após a pandemia. A afirmação foi feita pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), que destacou a crise no setor como o maior obstáculo de sua gestão. Reis também anuncia uma das principais obras de mobilidade urbana previstas para seu atual mandato: a implementação de um teleférico no subúrbio ferroviário da capital baiana.
Em entrevista ao CNN Novo Dia, o gestor municipal fez um balanço de seu primeiro ano de gestão e apresentou projetos futuros para a cidade.
O prefeiro explicou que o problema do transporte público vem se agravando há anos, mas piorou significativamente no período pós-pandêmico. "Nós tivemos uma redução significativa do número de passageiros transportados por conta das mudanças de hábitos dos cidadãos, principalmente pelo teletrabalho, pela chegada de novos modais como o metrô e dos motoristas de aplicativo", afirmou.
Reis também destaca o aumento expressivo nos custos operacionais: os valores dos ônibus, pneus, peças e combustível elevaram de forma acentuada após a pandemia, tornando-os financeiramente insustentáveis. "De forma tal que a equação hoje não fecha", ressaltou.
Subsídios municipais insuficientes
Para manter o sistema funcionando, as prefeituras têm recorrido a subsídios cada vez maiores. Em Salvador, a administração municipal complementa cada passagem com 59 centavos, segundo informou Bruno Reis. A situação, no entanto, é ainda mais grave em outras capitais, como São Paulo, que recentemente enfrentou problemas para o pagamento do 13º salário dos trabalhadores do setor, mesmo destinando quase R$ 7 bilhões em subsídios ao transporte público.
"Nós, prefeitos, não temos condições de assumir essa conta sozinhos", desabafou Reis, que mencionou tentativas de buscar apoio junto ao governo federal. Ele destacou que em diversos países do mundo, independentemente da orientação política dos governos, há políticas de subsídio para o transporte público. "Infelizmente no Brasil nós não temos essa cultura", concluiu.
Investimentos em infraestrutura urbana
"Vamos dar início a um teleférico, uma obra importantíssima de mobilidade no subúrbio ferroviário de Salvador, para melhorar o transporte daquela região", afirmou o prefeito de Salvador. A obra faz parte de um conjunto de projetos de infraestrutura que a Prefeitura pretende executar nos próximos anos.
Além do teleférico, Bruno Reis mencionou outras obras significativas em andamento, como a construção de uma arena multiuso com capacidade para 12 mil pessoas, que será climatizada e poderá receber competições nacionais, internacionais e grandes shows. "É um equipamento importantíssimo que a cidade hoje não dispõe e que a partir de outubro do ano que vem irá ajudar nessa estratégia nossa de fortalecimento do turismo da cidade", explicou.
O Centro de Controle e Operações da Prefeitura também está entre as obras em execução, com previsão de entrega para o primeiro semestre do próximo ano. Outro projeto destacado é a implantação de um novo Centro de Convenções no Centro Histórico de Salvador, região que, segundo o prefeito, "tem uma nova cara" e "voltou a ser desejado pelo soteropolitano".
Na área da educação, Bruno Reis mencionou a entrega de 40 escolas já realizadas em seu mandato, com outras 12 grandes unidades em execução. "Vamos chegar a 80 grandes escolas no final do primeiro mandato", projetou. Na saúde, o gestor municipal também anunciou a construção de um novo hospital para a cidade.
Plano Municipal de Segurança
Segundo o prefeito de Salvador, a segurança pública é hoje o maior desafio enfrentado pelo Brasil, especialmente na Bahia, considerado o estado mais violento do país por anos consecutivos. Ele destacou que das dez cidades mais violentas do país, cinco estão localizadas na Bahia.
O prefeito mencionou um episódio recente em que trabalhadores de uma empresa de internet foram assassinados em plena luz do dia enquanto realizavam seu trabalho. O crime teria ocorrido porque facções criminosas controlam seus próprios serviços de internet e não permitem concorrentes nas áreas que dominam.
"Sabemos que a segurança é uma responsabilidade constitucional do Estado. Não é o prefeito que comanda a polícia militar nem a polícia civil. Mas nós, prefeitos, na prática, estamos assumindo mais esta responsabilidade", afirmou Reis.
Recentemente, a Prefeitura de Salvador enviou à Câmara Municipal o Plano Municipal de Segurança, documento que apresenta um diagnóstico da situação na cidade e define novas atribuições que o município está assumindo para ajudar no enfrentamento da violência.
De acordo com o prefeito, a estratégia envolve principalmente o uso de tecnologia e o reforço da Guarda Municipal, que já está atuando em operações de enfrentamento às facções criminosas.
Saúde pública e programas sociais
Bruno Reis também abordou os desafios na área da saúde, mencionando a "famigerada fila da regulação", onde pacientes aguardam por cirurgias ou atendimentos de urgência, alguns chegando a esperar até 45 dias. O prefeito destacou que a prefeitura está ampliando o número de hospitais municipais, com a inauguração prevista de um terceiro grande hospital no início do próximo ano.
Na área social, Reis mencionou que 50,3% da população da Bahia vive abaixo da linha da pobreza. Como resposta, a prefeitura implementou diversos programas, incluindo a abertura de dez restaurantes populares que distribuem cinco mil refeições diárias, além de políticas voltadas para pessoas em situação de rua, como a recente regulamentação de uma lei que oferece benefícios fiscais para empresas que as contratarem.