Especialistas apontam que tom mais tranquilo de Trump ajudou no movimento
O dólar fechou janeiro valendo R$ 5,8355. Depois de começar o ano perto dos R$ 6,18, a moeda americana acumulou uma queda de 5,6% no mês. Com isso, o real foi a segunda moeda que mais valorizou em relação ao dólar, ficando atrás apenas do rublo russo, que subiu 6,8%.
Essa sexta-feira (31) marcou o décimo dia seguido de queda do dólar, um alívio depois do caos no câmbio em 2024.
O que está por trás da valorização do real?
A maior parte da disparada do dólar rolou no final do ano passado, quando o governo lançou um pacote fiscal que não agradou o mercado. Mas não foi só o real que caiu – várias moedas foram afetadas pelo medo das políticas econômicas que Trump poderia adotar ao voltar à Casa Branca.
Durante sua campanha, Trump falava em impor tarifas de importação para proteger a economia dos EUA. Esse tipo de medida pode acabar gerando inflação e juros mais altos, já que encarece produtos vindos de fora.
Só que, de uns tempos pra cá, Trump deu uma aliviada no discurso e até adiou as taxações que prometia para o primeiro dia de mandato. Além disso, tem adotado um tom mais tranquilo em relação à China.
“Do final do ano passado até a posse, Trump suavizou o discurso, que, por enquanto, não foi tão agressivo quanto ele dizia que seria”, explica Emerson Junior, especialista em câmbio da Convexa.
Juros altos no Brasil atraem investidores
Esse tom mais moderado abriu espaço para a possibilidade de cortes de juros nos EUA, o que torna mais interessante investir em países com juros altos – como o Brasil.
Essa movimentação faz parte do chamado carry trade, quando investidores pegam dinheiro onde os juros são baixos e colocam onde o retorno é maior.
E o Brasil está nesse jogo: com a Selic podendo chegar a 14,25% em março, os estrangeiros voltaram a olhar para o país como uma boa oportunidade de ganho.
“O movimento reflete, na minha opinião, a entrada de capital estrangeiro, impulsionada pelos juros altos no Brasil, que deixam o real mais atrativo”, explica Christian Iarussi, da The Hill Capital. Ele também lembra que a decisão do Fed (o Banco Central dos EUA) de manter os juros e a expectativa de cortes na Europa reforçam essa tendência.
Mas o cenário ainda pode mudar
Apesar da boa fase para o real, especialistas alertam que a situação global segue incerta.
“O jogo ainda está aberto. Se surgir uma nova tensão entre os EUA e os países do Brics, por exemplo, o cenário pode virar rápido”, diz Iarussi.
No Brasil, o mercado ainda está de olho nos rumos da política fiscal e monetária, com a Selic no centro das atenções. Se algo mudar nesse cenário, o câmbio pode reagir de outra forma.