A vitória esmagadora de Donald Trump nas eleições dos EUA vai fazer com que ele retorne à Casa Branca mais forte do que nunca, e o mundo vai ter que se acostumar com as turbulências que ele promete, tanto na política quanto na economia. Aqui no Brasil, essa eleição reacende as esperanças de uma "virada" parecida com a do seu aliado Jair Bolsonaro.
Trump diz que vai se perdoar pelos crimes que cometeu (e ele tem poder para isso) e até anistiar quem invadiu o Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Se isso acontecer, poderia abrir um caminho para algo parecido aqui, como uma anistia para os condenados pelo 8 de janeiro e para o próprio Bolsonaro, que hoje é inelegível.
Os bolsonaristas acreditam que a parceria com o presidente mais poderoso do mundo vai pressionar a política brasileira, especialmente os ministros do STF. Mas, se Trump está orientando os passos de Bolsonaro, ele também dá uma espécie de manual para a oposição, que já começa a enxergar o que pode acontecer no Brasil, com dois anos de antecedência.
Alguns efeitos do retorno de Trump são quase imediatos.
Se ele cumprir as promessas de campanha, o fluxo econômico global vai mudar. Caso decida taxar produtos importados, isso vai trazer inflação, que ele provavelmente vai tentar controlar com o aumento das taxas de juros.
Com isso, os investidores internacionais devem se mover para os EUA, atraídos pelos altos rendimentos, tirando recursos de países como o Brasil e fazendo o real se desvalorizar. E, com a alta do dólar, tudo vai ficar mais caro por aqui, já que quase um terço dos produtos vendidos no Brasil tem preços atrelados à moeda americana. Isso vai acelerar ainda mais a inflação e, para controlar, o Brasil vai ter que aumentar os juros.
A pressão sobre o presidente Lula para apertar os cintos, cortar gastos e seguir a cartilha da austeridade já está forte, mesmo antes de a contagem dos votos nos EUA terminar.
Lula, que é apoiador da Kamala Harris, vai ter que lidar com um presidente americano eleito depois de ser chamado de fascista por um ex-assessor e que mobilizou a galera com um discurso polêmico.
Como diz James Green, professor de História Moderna da América Latina na Universidade Brown, Trump conseguiu convencer uma parte da população que tinha medo de que, em um futuro não tão distante, os EUA deixassem de ter uma maioria branca.
"As pessoas não têm problema em falar o que pensam, e adoram que o Trump fale grosso, canalize o ódio e a frustração delas", explica o professor.
Agora, Trump volta à Casa Branca, com a legitimidade do voto popular e a experiência do mandato anterior, pronto para agitar mais uma vez.